05/11/2011

Que Deus é este?



Que Deus é este - perguntam muitos - que deixa que aconteça tanta desgraça neste mundo. Que faz com que uns passam fome enquanto outros tomam banho em banheiras de ouro. Que te diz que, quando e como é que tens de orar. Que te proíbe o alcoól e a carne de porco e que te diz como é que tens de vestir-te.

É o mesmo Deus que criou este mundo inexprimivelmente maravilhoso, com todas os seus seres – nem existem palavras adequadas para descrever esta infinita diversidade. O mesmo Deus, que me deu – justamente a mim – a vida. Me “equipou” com os sentidos, de maneira que sou capaz de ver, ouvir, cheirar, saber e sentir. Com um intelecto, com que posso raciocinar sobre isto; com uma memória...... - vocês não vêm que dons incríveis que são? Não é absurdo pensar que isto se evoluiu assim, por mero acaso?

O que é que são, em comparação com isto – umas poucas restrições e prescrições? ELE lá sabe para que é que servem. Certo é que servem só a nós próprios – Ele não precisa de nada das Suas criaturas.

E eu acredito que Deus no Fim estabelecera a Justiça Absoluta. Porque Ele nos promete:

Por certo, Allah não faz injustiça nem mesmo do peso de um átomo.... 

29/09/2011

preconceitos

Um comentário referente ao meu último Post  fez me refletir sobre o que são preconceitos na compreensão daquele que os tem. Os dicionários só explicam o termo em si – visto de „fora“.

Existem pessoas que admitem ter preconceitos? Isto é muito pouco provável. A explicação é simples: aquele que os tem não realiza que os tem. Ele está convencido de “saber” aquilo de que se trata. E por isso nem lhe vem a ideia de se informar de mente aberta
Ou será que estou enganada?

um bocado de tecido

Como não pára a polémica à volta deste bocado de tecido – até pelo contrário – comentar mais uma vez e tentar conseguir desta vez um pouco de compreensão para os não-muçulmanos.

Eles não sabem muito sobre o islão. Por isto não lhes entra na cabeça que uma mulher se cobra porque um livro de 1400 anos de idade o pede. A maior parte das pessoas estão simplesmente convencidos de que só existem 3 razões de utilizar o véu: ou a mulher é obrigada e pressionada pelo marido, pela família ou pela tradição, ou a mulher não sabe pensar (quer dizer, não é muito inteligente) ou é exageradamente religiosa (=fanática = fundamentalista?) e quer provocar.

Agora, queridas irmãs muçulmanas, tentem pôr-se nesta situação. Quer dizer, vocês não são muçulmanas e o que eu disse lá em cima é a vossa opinião. E vocês encontram-se por qualquer que seja a razão com uma muçulmana com hijab. O que é que acontece? Vocês não têm motivação de vos interessar para uma pessoa que na vossa opinião se deixa oprimir ou que é um pouco parvinha ou que vos quer provocar. Ainda muito menos estarão dispostos de vos deixar explicar qualquer coisa por esta pessoa. No pior dos casos esta mulher vos mete medo – no melhor dos casos, vocês têm compaixão com ela e querem ajudá-la a libertar-se….

Que pena....

Ah – e além disto, sejamos honestos, e não nos esqueçamos duma coisa: elas existem, as mulheres que só usam o véu porque são obrigadas pela familia, pelo marido ou pela tradição.

Infelizmente.

É preciso informação. E compreensão mútua.

02/09/2011

em casa


Agora, que vou encontrando o meu lugar nesta religião, que tirei os óculos cor de rosa e que já não me deixo intimidar nem por aqueles que gritam „haram“ nem por aqueles que interpretam o alcorão „à vontade do freguês“, e quanto menos pelos anti-islamicos,  agora que quem me rodeia embora não compreenda mas aceite a minha fé, respeite e até me ajude, agora estou a encontrar o meu sossego. Continuo um pouco sozinha, „estranha“ com a minha crença, pois só posso falar positivamente sobre o tema na internet. Apesar  disto, e mesmo que soe novamente esquisito para aqueles que relacionam o termo “islão“ com „cultura estranha“, a pesar disto: A sensação, que melhor resume o que eu sinto no islão a de ter 

...finalmente chegado em casa!

31/07/2011

Ramadan Mubarak

                                                       (Koutoubia, Marrakech, Maroccos)

23/07/2011

Oslo e o Islão nos media

Já sei há muito tempo que não se pode acreditar tudo que se lê e ouve nos media. Mas até há pouco não quis acreditar que a difamação do Islão tivesse sistema. Deixei-me sugerir que se tratasse duma "daquelas teorias de conspiração" (termo com que a imprensa "séria" costuma ridicularizar qualquer tentativa de pesquisas profundas em certos assuntos). 

Agora mudei de ideia. As reportagens sobre o atentado horrível de Oslo e a reação de certos políticos mas também um relato numa revista austríaca convenceram-me. 

Não é necessário dizer mais nada no que respeita Oslo - todos viram e ouviram.

O tal artigo é da:


e vou traduzir o titulo principal

249 atentados terroristas no ano 2010

19. April 2011 16:24

Relato anual da Europol: Descida de 21,2 porcento - em total sete mortos - só três atentados em relação com islamismo


No link mencionado podem ler o artigo completo. Será uma surpresa que não se leu e viu nada sobre isto -  se foi publicado só em pequeno - eu pelo menos só soube hoje deste relato. Se o resultado fosse o contrário? Não acham que se lia nas primeiras páginas e se falava nas notícias na televisão?

29/06/2011

não tenho tempo :(

Tantos posts em alemão e não tenho tempo para traduzi-los! E agora estive em Marocos e tenho tantas coisas para contar!

E já se está aproximando o Ramadã! Bem. Primeiro o trabalho e os contactos pessoais. Depois o mais importante em alemão (peço desculpa - o alemão é a minha primeira língua e o meu blogue original tem muitos leitores que não quero desiludir). E a seguir, se Deus quiser, vou traduzindo alguns dos posts. Muito obrigada pela vossa paciência.

Até em breve.

03/05/2011

e ponto final

Perguntam-me sempre de novo: „Porquê islão? Porque é que não podes simplesmente acreditar em Deus e ficar por ai? É tudo a mesma coisa, católico, budista ou islâmico – Deus é Deus.  E – já que tiveste de ficar religiosa, porque não cristã? Isto não corresponderia muito melhor com o teu background cultural?

E sempre de novo só posso responder o seguinte: Não estive no supermercado e escolhi uma religião. Não tinha nenhuma intenção de ficar religiosa. Fiquei, sem fazer nada para isto, – digamos, a partir do interior. Dentro de mim reina a convicção de ter encontrado a verdade. E por quanto que tento – embora consiga analisá-lo intelectualmente para mim própria, parece não sou capaz de explicá-lo de maneira que outros possam aceita-lo. Se calhar esta compreensão só se consegue através da fé. E por isso tenho de viver com o facto que é impossível transmiti-la a pessoas que não são muçulmanos crentes, por quanto que me esforce a explicar.

Muitos também me perguntam: „O que é que te traz isto?” Bem – esta questão para mim nem faz muito sentido, porque, já que não procurei nada….. Crendo que aquilo que encontrei é a verdade, não faz importância se ela traz qualquer coisa a alguém – é a verdade e ponto final.

Mas o que é bonito é que em realidade traz muita coisa. Vou contar disto noutra altura. 

29/04/2011

peço desculpa

O meu blogue principal é em alemão, minha língua materna. Mas como vivo em Portugal resolvi traduzi-lo para português, só que estou um pouco atrasada. Peço desculpa - também pelo facto da tradução não ser sempre perfeita, simplesmente não tenho tempo para mais. Quem souber alemão pode passar para a versão alemã - os outros peço que tenham paciência - vou traduzindo pouco a pouco os últimos posts.

Como publico esses post's com a data original, vale a pena ver de vez em quando no arquivo....

de volta

de volta em casa - back home - wieder zuhause - 
wider deheim - retour à la maison - 
de nuevo en casa - tornato a casa -
 ابن الوطن
O símbolo para um novo início:
a chaminé na minha casa... :-)

23/04/2011

Oração de sexta-feira, 2ª tentativa

Ponderei muito tempo se ia publicar a minha segunda experiência aqui ou não. Porque no fundo o que quero com este blog é diminuir preconceitos – não confirmar...


Mas, em nome da verdade, vou contar, como foi. Com o risco que um ou outro não-muçulmano dirá: „viste – sempre de disse, não disse?”

20/04/2011

O meu sonho de Meca

Meca -  مكة المكرمة

Gosto muito de ver as reportagens em directo da mesquita Al-Haram de Meca. Multidões incríveis, inclinando-se e prostrando  em filas exactas. Durante a Hadj (peregrinação) estão todos vestidos de branco, mas também fora dessa altura não se consegue distinguir as pessoas pela roupa, não se vê de onde é que vem cada um, que profissão que tem, de que classe social é. O que é uma pena é que os média no ocidente não costumam falar da calma e da disciplina com que os crentes praticam as orações, mas sim das poucas excepções.


Não é apenas a sensação de praticar a oração com centenas de milhares de pessoas de todas as raças, todas as classes sociais, das mais variadas maneiras de viver. É mais:  é saber que ao mesmo momento há bilhões de muçulmanos no mundo inteiro que estão rezando em direcção da Kaaba. E se já em casa, no nosso quartinho, conseguimos ter aquele sentimento maravilhoso – difícil imaginar-se como será então no „centro da oração“…. Um dia hei de saber. Se Deus quiser.

19/04/2011

Hijab

Não, já não vou justificar a minha crença, estou farta disto. Explicá-lo-ei a quem quiser com muito gosto - o melhor que sei. E defendê-lo-ei se for necessário. Mas já não o justificarei. É que aquela vergonha que senti do princípio (perante mim próprio e o mundo) transformou-se em orgulho. Sim, sou orgulhosa por ser muçulmana, não por nascimento ou por documento, mas conforme o sentido da palavra: "submissa a Deus".

E agora surge a pergunta por aquele pedaço de tecido, de cujo uso parece depender a paz espiritual tanto dos homens como das mulheres muçulmanos. (E de cujo não - uso parece depender tanto a paz espiritual de todos os não-muçulmanos ....) E sobre o qual se discuta até que as cabeças deitam fumo...

16/04/2011

O Islam faz feliz?

Sim! Sim! Islam faz feliz! Por gastas que estas palavras pareçam: o Islam traz calma, paz interior. Faz com que as coisas sem importância não tenham importância, que o útil pareça útil, o belo belo, o mau mau. Ajuda a enfrentar situações desagradáveis e problemas com mais calma. Faz com que nos apercebemos dos milagres da natureza com mais intensidade, de maneira que possamos goza-los com todos os sentidos. Para nem falar daquela sensação durante a oração (de que falo constantemente na "metamorfose"), ou outros momentos em que nos lembramos de Deus.

A única gota de amargura - mas mesmo muito amarga - é a rejeição pelo mundo que nos rodeia, os medos  que obviamente se provoca em familiares e amigos.

15/04/2011

Alcorão para teimosos

 Muitos não-muçulmanos não compreendem como é que uma pessoa consegue acreditar, que o Alcorão na sua totalidade é de origem divina. Vou tentar explicar tão breve como possível, mas um pouco mais explícito do que na "Metamorfose", como foi que eu cheguei a esta conclusão. Não é uma única razão – antes o conjunto de vários aspectos. No fundo cada um deles já é um milagre, mas, teimosa que sou, desvalorizei-os dizendo:  „bem, procurando a sério, encontra-se uma coisa destas em qualquer livro… )

09/04/2011

O meu tapete voador

Pelo menos cinco vezes por dia dou um pequeno voo – no meu tapete de oração


Claro, não me consigo sempre concentrar totalmente (é incrível para que esferas profanas os pensamentos podem divagar quando menos se quer). Mesmo assim, aprecio esses passeiozinhos. E também quando  às vezes fico ajoelhada no fim duma oração, com o meu alcorão enorme em frente de mim, seguindo as letras bonitas com o meu indicador direito e tentando decifrá-las, ouvindo a minha própria voz de longe, fico depois com a sensação de ter dado um voltinha algures.

08/04/2011

Instinto – Fitra ?

Uma das minhas primeiras perguntas foi:


“Porque é que Deus se preocupa com o que vestimos, nos dá regras como e quando e quantas vezes temos de rezar. O que podemos comer e o que não. Isto é mesquinho, não corresponde com a ideia de um Deus Grande, acima de tudo”

A resposta foi vaga. »Isto faz parte da sabedoria de Deus». Claro que não compreendi. Mesmo assim senti uma “necessidade interior”  de cumprir estas regras esquisitas. Um género de instinto, que ia ficando mais forte com o tempo.

No islão, este „instinto“ tem um nome: Fitrah. Diz-se que cada ser humano nasce com ela, e conforme a vida que leva ou também pela educação, esta fitrah pode ir ficando “tapada”. Parece me lógica a comparação com o instinto, que também controlamos através do juízo (ou da fitrah?), por exemplo travamos o instinto reprodutivo e reforçamos o instinto materno. 

Mas para mim foi importante ser capaz de me explicar esta „necessidade interior“ também intelectualmente. E cheguei a conseguir, porque realmente vejo o alcorão  como um „universo falando“. Olhamos para o universo, e conseguimos compreender algumas coisas. Mas muitas outras ficam no mistério. Mesmo assim existem. E são verdade. Com o alcorão, é igual. Até ele próprio diz:



«Ele foi Quem te revelou o Livro; 
nele há versículos fundamentais, que são a base do Livro, havendo outros alegóricos. Aqueles cujos abrigam a dúvida, seguem os alegóricos, a fim de causarem dissensões, interpretando-os capciosamente. Porém, ninguém, senão Deus, conhece a sua verdadeira interpretação. Os sábios dizem: Cremos nele (o Alcorão); tudo emana do nosso Senhor. Mas ninguém o admite, salvo os sensatos. 
(Sura 3, verso 7) 

Ele é o Primeiro e o Último; o Visível e o Invisível, e é o que sabe tudo. 
(Sura 57, verso 3) 

Conhecedor do cognoscível e do incognoscível, o Poderoso, o Prudentíssimo. 
(Sura 64, verso 18)

E assim aceito o facto de que o universo é verdade, mas que nele há muitas coisas que não compreendo. E aceito o facto, de que o alcorão é verdade e que também nele tem muitas coisas que não compreendo. E cumpro regras cuja sabedoria só Deus conhece. É tão simples como isso

23/03/2011

não tenham medo!

Quero repetir mais uma vez uma coisa aos meus familiares e aos meus amigos não-muçulmanos:

Eu compreendo as vossas dúvidas, a vossa admiração, a vossa rejeição! Não me esqueci como eu pensava antes – e como teria reagido se alguém me aparecesse com uma história destas – pelo menos tão incompreensiva e perplexo como vocês.


Só vos peço um favor: não tenham medo por mim! Não estou numa seita e ninguém tenta influenciar-me para o islão (só contra ;-)) Ninguém me vai cravar nem empurrar para um abismo. Ninguém me vai pôr uma burka por cima e fazer de mim uma fundamentalista. Por isso, ninguém precisa preocupar-se comigo. 

13/03/2011

Oração de sexta feira

Recentemente juntei toda a minha coragem e dirigi-me à mesquita na minha cidade (que se encontra num apartamento). Quis participar numa oração de sexta-feira. Para tal, atravessei metade da cidade com lenço! Surpreendentemente ninguém me cortou a cabeça... ;-) – bem, houve uns olhares esquisitos - compreensíveis, considerando que nos quase 20 anos que vivo aqui só vi uma ou duas mulheres com hijab islâmico.

Bem – parece que me deram um horário enganado. Quando cheguei, já tinha começado o sermão. Na sala das mulheres estava – um homem, que me acenou para ir para outro quartinho pequenino que estava – vazio!

E assim fiz a minha primeira oração em comunidade – sozinha. Foi uma sensação bastante estranha. Aconselharam-me para – na próxima vez – ir sem medo para a sala principal e rezar atrás dos homens. Bem – não tenho a certeza o que no fim das contas é mais desagradável: rezar sozinha (para isto é melhor ficar em casa) ou atrás de tantos homens desconhecidos….